Nossa história de amor pelo cinema dos afetos e da resistência política

Desde a sua criação, há 21 anos, o Festival Taguatinga de Cinema tem como objetivo promover o cinema brasileiro de curta-metragem que existe como expressão da nossa resistência vital e artística. A existência do festival está vinculada a uma produção cinematográfica que reivindica a imagem e a palavra não só para denunciar, mas também para criar desvios poéticos inspirados em vidas que atuam no caminho dos afetos e ampliam seus poderes de realização e mudança até os limites possíveis.

Através de um pensamento curatorial permeável às novas ideias e aos novos movimentos de cinema, nós do Conselho Curatorial do Festival Taguatinga de Cinema estamos comprometidas, pela ética fundadora do festival, com filmes que abraçam a realidade do nosso país, desafiam limites e propagam os avanços políticos, sociais e culturais tecidos na permanência da luta das mulheres, dos LGBTQIA+, dos povos negros, indígenas e das demais populações subalternizadas. 

Nossa atenção está orientada, sobretudo, para os sujeitos que estão filmando em modos de produção não tradicionais, inventando novas formas cinematográficas, visibilizando corpos, legitimando modos de vida e de conduta sintonizados e comprometidos com os avanços civilizatórios. 

Entendemos que curar é acolher e cuidar daqueles realizadores e realizadoras que são marcados pela exclusão sistêmica. Assim, buscamos, com todo amor e cuidado, promover a cura para as desigualdades que são próprias do campo do cinema, combatendo privilégios, colocando em crise mecanismos estruturais que dão visibilidade a certos tipos de filme e mantêm outros na invisibilidade.  

Diante de um conjunto tão diverso de filmes que representam a produção contemporânea brasileira de curtas metragens, entendemos que é nosso dever enxergar e dar a ver certas experiências de natureza social que o novos sujeitos do cinema estão elaborando e projetando para o mundo, valorizando assim outras subjetividades. 

Acreditamos que, procedendo dessa forma, estamos impulsionando um novo pensamento de cinema, no momento em que muitos filmes estão sendo feitos por quem, até bem pouco tempo, pela dificuldade de acesso aos meios de produção audiovisual, era objeto e não sujeito.

Nossa pequena contribuição à escrita da história do cinema brasileiro é no sentido de tornar possível o encontro entre os filmes e o público espectador, pois sabemos que é somente neste encontro que os filmes ganham vida. Ao assumir a nossa condição de passeurs, ou seja, de profissionais que acompanham e protegem os filmes selecionados, como no dizer do crítico de cinema francês Serge Daney, nós corremos com eles todos os riscos. E é isso, precisamente, o que nos anima. 

Nina Rodrigues e Adriana Gomes