Comissão de seleção comenta o processo de escolha dos curtas

Responsáveis pela seleção dos curtas-metragens do 12º Festival Taguatinga de Cinema, Adriana Gomes e Nina Rodrigues analisaram nada menos do que 215 produções inscritas. As 20 selecionadas e as quatro que mais arrecadaram votos pelo site serão exibidas entre os dias 1º e 4 de novembro, no Teatro da Praça, em Taguatinga. Na entrevista a seguir, Adriana e Nina comentam o processo de seleção.

O que foi mais desafiante durante a análise dos curtas inscritos?
AG: O principal desafio foi a quantidade de curtas-metragens inscritos, a diversidade de temas e manter um olhar sobre a produção na perspectiva do tema do festival em 2017, “Nossa porção mulher”, que atingisse a nossa expectativa na práxis do feminino e dos feminismos como recorte. Além do desafio de selecionar curtas para representar um painel do momento sobre as questões do feminino, tivemos a preocupação também de selecionar curtas que envolvesse o maior número de estados brasileiros com o conceito proposto para o 12º Festival Taguatinga de Cinema.

NR: O maior desafio deriva da maior surpresa: receber uma quantidade grande de filmes alinhados com o tema do festival. O que não é uma coisa simples de entender porque, obviamente, ele fica muito conectado às temáticas femininas, as temáticas da mulher. E a nossa intenção foi ampliar isso e trazer para o Feminino, com F maiúsculo, que tem a ver com valores, com amorosidade, com compaixão, com confiança, conexão com a Terra, conexão consigo mesmo. Foi muito bacana perceber que existem coisas sendo produzidas nesse sentido e que as pessoas entenderam a proposta e inscreveram filmes com narrativas sensíveis e sobre temas variados.

Antes de verem os filmes, vocês tinham algum tipo de expectativa quanto ao que iriam avaliar? E, depois de visto todos esses curtas-metragens, o que diriam que foram as maiores surpresas?
AG: Sim, a expectativa era grande em saber o que, nacionalmente, realizadores e realizadoras de curtas-metragens estavam produzindo nessa linha temática. Almejávamos curtas que sintetizassem o feminino na tela, em filmes guiados por afetos, amorosidade, senso do sagrado, respeito à alteridade e à Natureza. Não sei distinguir as surpresas (foram tantas), mas o que nos orientou foi a nossa responsabilidade e sensibilidade do nosso lugar enquanto mulher, de escolher curtas que nos tocassem por meio da nossa vivência e da nossa visão de mundo. Isso sim foi surpreendente, selecionar curtas que dialogam entre si em suas diversas dimensões.

NR: Está sendo feito um cinema com este olhar feminino, não apenas em termos de temática, mas de narrativa. Em outras palavras: há uma produção cinematográfica prolífica, centrada na atualidade dos temas relacionado à mulher e aos valores femininos.

Que abordagens o público pode esperar quanto ao tema proposto?
NR: Muitos filmes tratam do empoderamento da mulher, principalmente da mulher negra, que está num momento muito vigoroso nessa busca por seu lugar, de posse de toda a sua força, isso é muito bacana. E a gente observou isso no processo de curadoria. Porque a gente sabe da necessidade não só de discutir, mas da necessidade que as mulheres têm de auto-expressão. Temos também histórias com crianças e histórias de uma alma feminina que se expressa no masculino, a anima no homem.

AG: As obras trazem algumas das mais representativas tendências do curta nacional, mesclando ficção, documentário, animação e linguagem experimental com toda sua riqueza narrativa sobre o feminino. Com o debate que trata de questões que envolvem a diversidade de gênero e a luta coletiva contra o racismo e as várias formas de violências contra as mulheres. Os curtas-metragens retratam aspectos afirmativos das vivências LGBT e questões raciais de autoconhecimento, fortalecimento e desconstrução de valores estéticos com dimensão política e de denúncias e reflexões sobre a violência contra a mulher a partir do diálogo e visibilidade nos diversos segmentos identitários de nossa sociedade. E por fim, curtas que de alguma maneira, retratam a busca por uma raiz, uma ancestralidade da força feminina que todos nós temos, ou seja, na “nossa porção mulher”.