A sinfonia cinematográfica de Messias

No set de filmagem, logo depois que o diretor ou a diretora grita “Ação!”, a sinfonia orquestrada por Messias é feita de gestos precisos, silêncios, companheirismo e muita disposição para o trabalho. No sobe e desce das gruas, como fiel escudeiro do diretor de fotografia, o maquinista Messias, que nasceu Manoel Messias Filho, experimenta a realização profissional.

O amor pela sétima arte surgiu quando Messias conheceu o estudante de cinema Eduardo Sodré, morador do condomínio onde ele trabalhava como vigia noturno. Aquele encontro tão afetuoso e inspirador mudou o rumo da vida dele. Para usar um jargão cinematográfico, o início da amizade com Eduardo lhe valeu um “ponto de virada”. Messias abandonou o emprego para se dedicar ao cinema, encerrando um passado sem profissão definida e sem paixão por um ofício.

No começo, a vida como profissional do cinema andava a par e passo com a de músico integrante da banda Eminent Shadow. Apesar do relativo sucesso obtido pela banda no meio underground, Messias optou por dedicar-se inteiramente ao cinema. 

Até montar sua própria empresa, ele seguiu a trilha do cinema trabalhando nas locadoras de vídeo Millenium e Movie Center, em Brasília. Nessa época, ele começou a receber convites para integrar equipes de filmagens. O primeiro filme que fez foi o curta-metragem ‘Leo 1313’, de Betse de Paula, em 1997, como estagiário de luz e maquinária. Depois veio ‘O som, as mãos e o tempo’, do cineasta Marcos Mendes. E então a coisa deslanchou à base de muita dedicação e estudo. 

Hoje, Messias é dono da Aicon Ações Cinematográficas, empresa que ele mesmo criou com o nome do filho e que atua também nos ramos publicitário, do marketing político e do videoclip, fazendo locação e transporte de equipamentos. No currículo, a Aicon tem as campanhas vitoriosas de Lula e Dilma Roussef à Presidência da República. Fez filmes publicitários da Petrobrás e do Banco do Brasil, da Vivo, da Oi, da Volkswagen e da Mercedes-Benz, entre as de outros grandes clientes. E fez também eventos de grande porte como o Brasil Club e o Porão do Rock, além de videoclipes de artistas locais e nacionais.

Em 22 anos de cinema, do primeiro filme até hoje, a lista de curtas-metragem de Messias atingiu a marca dos 30 filmes; a de longas, novelas e séries de televisão bateu a casa das duas dezenas. Aos 45 anos, ele trabalha a todo vapor. Somente este, Messias já rodou seis curtas e quatro longas.

Messias conta que a Aicon surgiu da necessidade de apoiar a realização de filmes de baixo orçamento, principalmente aqueles de diretores estreantes. E arremata: “Eu sei quanto vale o apoio para quem está começando. Sou muito grato aos amigos que me deram força para seguir na profissão e trabalhar com afinco, principalmente a Eduardo Sodré, Cássio Pereira e William Alves, além de João de Castro, que foi a pessoa que mais me incentivou. Ajudar a quem está começando no setor é uma forma de retribuir o que esses amigos fizeram por mim”. 

Este ano, Messias é um dos três homenageados do Festival Taguatinga de Cinema, ao lado da professora de cinema da UnB, Érika Bauer, e do ator Andrade Júnior (in memorian). Uma frase que define o sentimento de Messias em relação à sua carreira no cinema, e que ele repete amiúde, é também definidora do espírito que impulsionou o desejo de homenageá-lo. Com os pés bem fincados no aqui e no agora, Messias costuma dizer: “hoje, eu sou a realidade que eu sempre quis ser”.