Discutir a TV Digital, suas possibilidades e limitações, está na pauta do Seminário de Desenvolvimento de TV Digital Ginga-DF, que será realizado em 28 de março no auditório M da Universidade Católica de Brasília. Se você acha que existe um consenso sobre a TV Digital, saiba que a coisa não é bem assim. Conversamos com dois dos palestrantes que participarão do seminário, Cosette Castro e Valdecir Becker (conheça mais sobre eles aqui http://festivaltaguatinga.com.br/?p=449). Pelas respostas, é possível perceber diferentes pontos de vistas sobre o tema e ter uma ideia do quanto o assunto render. Quer participar do seminário? As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui no site (http://festivaltaguatinga.com.br/inscricoes/2014/seminario/oficina) até 27 de março.
Cosette: Tenho afirmado que a TVD é revolucionaria sempre e quando utilizar o Ginga, o middleware (camadas de software) brasileiro desenvolvido em código livre que permite a interatividade pela TV aberta. A possibilidade de que as audiências participem através do controle remoto podendo “dialogar” com as empresas de televisão (públicas e privadas), altera o status de audiência passiva que durante tanto tempo o público sofreu. Além disso, a TVD interativa colabora para a melhoria da qualidade de vida das populações de baixa renda, outro fator revolucionário quando se planeja um país igual pra todos.
Cosette: Rapidinho, como mostram as capacitações realizadas em João Pessoa (PB), em Ceilândia e Samambaia junto à populações de baixa renda. Se houvesse campanha nacional, as pessoas aprenderiam em um dia a utilizar a interatividade na TV aberta. Já a produção de conteúdos demora um pouco mais. Precisa de capacitação e essa capacitação demora em média uma semana, dependendo do público.
Cosette: Vou falar sobre a produção de conteúdos audiovisuais interativos como estratégia de desenvolvimento na América Latina. Esse foi o meu trabalho de pós-doutorado em 2011 e o atualizei. Analiso cinco países e como estão se preparando para sair da condição de compradores de conteúdos audiovisuais digitais pra se prepararem para serem produtores de conteúdos. Vou falar sobre os casos brasileiro, uruguaio, argentino e venezuelano.
Valdecir: Não. Ao contrário do que se imaginava há 10 anos, pouca coisa mudou com a TV digital. As emissoras continuam as mesmas, não houve mudança no modelo de negócio, a interatividade plena continua uma promessa. A única mudança que de fato aconteceu foi a melhora da qualidade do som e da imagem, o que não é pouca coisa, mas é insuficiente para consideramos a TV digital uma revolução.
Valdecir: Assistir é um processo de aquisição da tecnologia. É paulatino e gradual. Creio que em cinco anos a maior parte da população tenha pelo menos uma TV digital em casa. Interagir depende da aceitação do público, porque a interatividade que as emissoras estão propondo ainda é pobre em termos de recursos ou mal feita em termos de implementação. Se continuar assim, não teremos interatividade na TV. Produzir, não vejo como. Trata-se de uma utopia achar que um cidadão não dono de emissora ou de produtora possa gerar algum conteúdo não esporádico para uma emissora de TV. Existem problemas tecnológicos e de modelo de negócios.
Valdecir: Vou falar sobre tendências do audiovisual como um todo, pensando na evolução da TV digital. Isso inclui 4K, 3D, segunda tela, envolvimento do telespectador com o conteúdo, engajamento e uso das novas tecnologias audiovisuais para educação. Do ponto de vista da produção, não há mais separação entre TV, cinema e internet. As ferramentas e técnicas são as mesmas, o que muda é a forma como o espectador consome e usa o conteúdo. O amplo acesso a mídias digitais e o aumento da velocidade da internet está gerando um novo patamar de interatividade, onde o conteúdo é produzido a partir do espectador, e não simplesmente para ele, como acontecia com o cinema e a TV do século passado. Conteúdos over the top (OTT) e a segunda tela estão colocando em xeque o modelo tradicional de TV (e por extensão, do cinema).
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