Zé do Caixão, personagem icônico do cinema de horror brasileiro, percorre a Esplanada dos Ministérios em Brasília com o seu triciclo motorizado. Faz uma parada estratégica em frente ao Congresso Nacional e, de capa preta e tridente em punho, roga uma praga.
A cena que abre o filme A Praga do Cinema Brasileiro, dos diretores William Alves e Zefel Coff, foi gravada há exatos 20 anos e serve de âncora para uma narrativa que celebra o cinema brasileiro como espelho da sociedade. O conjunto do filme, composto por esta cena inicial seguida de um mosaico de fragmentos de filmes realizados entre os anos 1960 e 1990, converte a praga de Zé do Caixão numa bênção ao nosso cinema, mesmo que a realidade ali refletida confronte o público com uma história antiga de ataques do imperialismo americano à soberania do Brasil, dando a ver que ela ainda não foi superada.
A Praga do Cinema Brasileiro, que foi lançado em 2018 durante a 13a. edição do Festival Taguatinga de Cinema, está agora disponível na TARAPE TV, o canal do festival no Youtube. A Praga é um filme de curta-metragem com 27 minutos de duração.
O lançamento do filme em 2018 aconteceu na mesma noite em que o Festival Taguatinga de Cinema homenageou o ator que por mais de 50 anos encarnou a figura mítica de Zé do Caixão. José Mojica Marins, morto em fevereiro deste ano, gravou a cena de abertura de A Praga quando veio participar da edição de 2000 do FesTaguá.
O diretor William Alves conta que o registro audiovisual foi guardado a pedido de Mojica. “Ao final da filmagem, perguntei a ele o que deveria fazer com o material. Mojica me pediu que o guardasse e esperasse por um sinal que ele mesmo daria em momento apropriado. Foi somente em 2018 que recebi a autorização para fazer uso das imagens.”
Um dos maiores desafios dos diretores de A Praga foi criar um roteiro a partir do material gravado dezoito anos antes. “Buscamos construir uma estética que dialogasse com as imagens e o discurso proferido por Mojica. A força daquele ato político encarnado pelo personagem Zé do Caixão deveria abrir passagem para uma narrativa com vigor equivalente.”
Os diretores então começaram a investigar as imagens do Brasil do período entre 1960 e 1999 e, então, construíram uma narrativa a partir de filmes brasileiros que fazem um apanhado histórico do país, além de atestar a qualidade do cinema brasileiro.
“Para nossa surpresa, nos deparamos com filmes que nunca chegaram ao grande público, filmes tidos como ruins, mal produzidos. Quisemos prestar uma homenagem e fazer um desagravo aos filmes que foram insultados como uma praga que não prestava para nada”.
O curta A Praga do Cinema Brasileiro, em sua passagem por vinte festivais de cinema do Brasil e do exterior, recebeu nove prêmios: Melhor Filmes no Festival de Cinema de Santa Teresa, Melhor Montagem em cinco festivais (51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 12º Curta Taquary, 3º Festival de Cinema do Paranoá, 14º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões, 14ª edição do Comunicurtas UEPB) Melhor Roteiro no 26º Festival de Cinema de Vitória de 2019, além do Prêmio SESC Cinema de Arquivo.
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