#FTC21anos | O festival do coração do cineasta Antônio Balbino

Eu tinha 16 anos quando fui pela primeira vez ao cinema. Foi em Taguatinga, no finado Cine Lara. Ali eu  vi o pior filme da minha vida. Meu interesse pelo cinema, e por fazer cinema, nasceu depois, lá pelo ano 2000, coincidindo com o início do meu afeto pelo FestTaguá.

Eu sempre morei em Brazlândia, o meu “Centro do Mundo”. Nos anos 2000, sair de casa para ir ao cinema no Plano Piloto era algo pouco animador (bom, ainda é, por causa da lonjura). Além da distância e da dificuldade de logística, cinema já era então um programa caro, quase inacessível para mim. Por isso, tudo que dizia respeito ao cinema era novidade.

Um dia, assistindo ao telejornal local, uma nota sobre uma mostra de filmes de curta-metragem em Taguatinga despertou a minha curiosidade. Aí eu me perguntei: “o que diabos será filme curta-metragem?” (mentira, eu não disse “diabos”, eu usei outra palavra, mas achei de bom tom não publicá-la). Pois bem, aquela mostra de filmes, coisa que eu nem sabia que existia, tinha uma vantagem que devia ser considerada: Taguatinga estava ao lado, mais perto de Brazlândia do que o Plano Piloto.

Então eu fui.

Não me lembro bem da programação de filmes daquela primeira noite. O que ficou gravado na minha memória afetiva foi o prazer que senti naquele ambiente assistindo a filmes de curta-metragem, formato que alías eu desconhecia, na bitola de 16mm, outra novidade.

Nas edições seguintes do FestTaguá, me tornei parte do público cativo. Foi frequentando as oficinas ofertadas pelo festival que eu comecei a lapidar o que viria a ser a minha profissão. Foi ouvindo o inesquecível Zé do Caixão e sentindo a sua paixão pelo cinema que eu finalmente me tornei cineasta.

Não demorou muito até que eu realizasse o meu primeiro filme de curta-metragem. Foi  aí que este espectador cativo subiu ao palco do FestTaguá para receber seu primeiro prêmio. Primeiro de outros que recebi ali mesmo, no palco do Teatro da Praça, no meu festival do coração.

Hoje, muitos filmes depois, eu ainda tenho cadeira cativa na plateia do FesTaguá. Mas ao longo dos 21 anos de história do festival, já como cineasta do DF, eu assumi diversos papéis. O mais importante deles, no entanto, é o de ser um eterno e vibrante torcedor.

Eu torço para que o Festival Taguatinga de Cinema siga firme valorizando os novos realizadores de curta-metragem e trabalhando com afinco para alavancar, através do TaguaMAPI, as carreiras de jovens cineastas independentes, todos tão carentes de oportunidades.

É tão bonito vir acompanhando a trajetória desse festival que resiste e floresce fora do centro, na periferia do poder. Por isso é que só tem uma forma de encerrar essa minha declaração de amor, e o farei celebrando com vocês assim: a periferia é nós, manx!

Antonio Balbino é roteirista e morador do “Centro do Mundo”.